quarta-feira, 16 de maio de 2012

Quais os fatores que devem ser levantados para montar um treino de artes marciais?

A verdade é que o treinamento é mais simples do que parece. Com pequenas dicas e uma boa percepção pode-se melhorar muito a seção de treino. 
Academia BLEC-Foto-Natinho Rodrigues
Ao falar de treinamento para as artes marciais, eu poderia citar alguns trabalhos científicos, falar sobre fisiologia, biomecânica e vários outras áreas cientificas que compõe o processo final do treinamento, de treinamento aeróbico, treino lático, e muito mais. O resultado e que poucas pessoas entenderiam o que estou tentando passar, não aproveitando e não aplicando o aprendizado.

Vamos falar especificamente do Jiu-Jitsu, uma arte marcial com regras fechadas e calendário fixo. Falarei dicas básicas e simples podem melhorar nossa seção de treino.

Em primeiro lugar devemos estudar o calendário, devemos ver quais as competições mais importantes, quais competições vamos usar como teste que servirão para ver como nosso atleta esta se saindo, e sentir a resposta que o corpo esta dando ao processo de treino. Com isso montamos nosso calendário competitivo, ele vai nos dizer quantos dias de treino e dias de descanso teremos do primeiro dia de treino até a competição de principal objetivo, ou seja o último dia de treino. A partir daí montaremos nosso calendário de treino físico e de treino de luta, dividindo as etapas dos treinos (treino de força, velocidade, potencia, por exemplo) e faremos uma montagem dos treinos de luta, levando em consideração o tempo da luta, quantidade media de lutas, intervalo entre as lutas e estratégia a ser seguida.

Feito isso, vamos para outra etapa: estudar a forma da competição, que significa saber tudo, exatamente tudo que acontece na competição. Por exemplo: qual o tempo de luta? Qual o intervalo médio entre cada luta? Quantas lutas em media? Todas as lutas serão no mesmo dia? A regra é a mesma da oficial? Qual é a categoria de peso e o intervalo entre a pesagem e a primeira luta? O controle desses fatores podem influenciar no resultado final. E, como vamos utilizar essas informações no nosso treino diário?

Seguindo as normas da Confederação Brasileira de Jiu-Jitsu, para uma luta de faixa preta, nosso atleta luta por 10 minutos e descansa por, no mínimo, 20 minutos antes da segunda luta. Com isso nos já temos a media de um para dois, ou seja, para cada minuto de luta existem 2 minutos de descanso, sendo que, se houver finalização, temos mais tempo ainda. Sem contar que podemos criar um treino intervalado com esses 10 minutos de luta, podemos criar treinos de 30 segundos por 30 segundos, onde deixaríamos nosso atleta recuperar bem antes do próximo tiro (treino) podendo explodir novamente.

Podemos fazer treinos de 2 mininutos por 1 mininuto, onde nosso atleta teria a metade do tempo para recuperar e com isso trabalharia um pouco mais da sua resistência, ou treinos de 20 segundos por 40 segundos, onde o atleta teria uma boa recuperação e explodiria novamente no próximo treino.
Bruno e Tererê no treino de Jiu-Jitsu-Foto-Natinho Rodrigues
Podemos fazer inúmeras combinações de treinos, todas elas ligadas as demandas metabólicas que usamos (sistemas energéticos). Combinaríamos essa periodização de treino de luta com nosso calendário e nosso treino de musculação, pois se treinamos um treino de potencia na luta (20seg/40seg, por exemplo) não podemos fazer um trabalho lático na musculação, pois seriam treinos concorrentes.

Sabendo a quantidade média de lutas, podemos treiná-lo para aquelas lutas. Se na última competição o atleta que se tornou campeão fez quatro lutas, podemos treinar nosso atleta para uma média de quatro a cinco lutas, ou sejam quatro ou cinco rolas. Com isso, ele especificaria seu treino, o deixando com a característica da competição e passaria a treinar menos, se desgastando menos e dificultando mais ainda a chance de lesão.

Certa vez treinei um atleta para uma luta casada de 15 minutos. Passamos a treinar para uma luta de 15 minutos, com treinos intervalados direcionados para 15 minutos, fazíamos diversas configurações de treinos e controlávamos ate a quantidade de trocas de sparrings, quantos sparrings usaríamos nesses 15 minutos, se entrariam todos descansados, se treinariam em paralelo para entrar cansados durante o rola. Isso tudo pode influenciar no resultado direto da competição.

Respeitar os descansos e folgas também é de fundamental importância. Controlar a intensidade do treino e como eles se encaixam na planilha de treino também. Não podemos exigir duas sessões seguidas de treinos fortes, ainda mais durante uma semana inteira. Uma boa dica que aprendi com a equipe de Boxe Olímpico de Cuba foi a cada cinco sessões de treinos, descansarmos uma, e quando completarmos dez seções descansarmos de 24 a 48 horas até retornamos a sequência.

Fora atitude simples que podem melhorar muito nossa sessão de treino. Como controlar o intervalo, montar uma sequência progressiva e crescente de treino, controlar diariamente a carga na musculação, e até mesmo a presença de um cronômetro no treino. Outro dia visitando um treino de uma grande equipe de MMA do Brasil, me dei conta que o treinador de Wrestling controlava o treino por um relógio pendurado na parede. Será que ele conseguia marcar o tempo de treino e o tempo de intervalo de maneira correta? Acho difícil. Um cronômetro simples melhoraria 100% a qualidade estrutural do treino porque a qualidade pessoal já era ótima.


EducacaofFisica

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