segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Suplemento da moda, o BCAA promete reduzir o desgaste e a degradação das fibras

Especialistas, porém, acreditam que o efeito está longe de ser milagroso

Dos atletas magrinhos àqueles que brigam com os dígitos a mais na balança, o dilema é o mesmo: como praticar um exercício físico sem perder massa muscular? A saga para entrar em forma passa pela dificuldade de realizar treinamentos de alta intensidade e não desgastar os músculos. E é justamente esse o controle prometido pelo BCAA, suplemento formado por aminoácidos de cadeia ramificada, os quais o organismo não produz.

Combinado por três compostos — leucina, valina e isoleucina —, o complexo evita que se busque energia, normalmente retirada da gordura e do carboidrato ingeridos, nos músculos. Assim, além de evitar o desgaste e a degradação das fibras, ajuda na agilidade do processo de recuperação pós-treino. As sofridas e desanimadoras dores do dia seguinte passam a não existir.

“Os incômodos pelo corpo desaparecem mais rápido. Ficamos prontos para a próxima atividade, sem qualquer fadiga ou indisposição”, comenta Daniel Miranda, campeão brasiliense de fisioculturismo neste ano. O atleta de 22 anos é adepto do suplemento desde 2006, mas faz a ingestão em intervalos de três em três meses. Normalmente às vésperas de competições, quando o rendimento de Daniel tem de ser maior, ele retoma a suplementação.

Já Gustavo Sampaio, campeão de muay thai, de caratê e de MMA, vê o BCAA como um escudo para seu corpo. “É bom para evitar lesões. Quando estamos focados em competições, acabamos pegando mais pesado. É nesse momento que tende a acontecer fraturas. Com uma regeneração melhor, ficamos mais protegidos”, acredita. Além de lutadores e outros atletas que trabalham diretamente com a força, o nutricionista esportivo Gustavo Carvalho indica o BCAA para os mais diversos esportistas, de corredores a fisiculturistas em busca de hipertrofia ou que praticam atividades de longa duração.

“O complexo preserva a massa muscular e também libera antioxidantes, os quais combatem os radicais livres. Há casos, inclusive, de idosos tomando, já que eles perdem muito peso e ficam mais frágeis”, explica. Carvalho alerta, porém, que existe um grande modismo no consumo do complexo. “É importante frisar que tem de ser atleta ou haver uma necessidade alimentar. Algumas pessoas apenas fazem uma ginástica e tomam em uma quantidade exagerada. Aliado a uma rotina inadequada, com o uso de bebida alcoólica e de fritura, pode sobrecarregar o sistema renal.”

Consumo necessário

Aminoácidos são as enzimas que formam a proteína. Alguns são produzidos pelo próprio corpo. No caso dos BCAAs, não gerados naturalmente, é necessário o consumo de carne, derivados do leite ou suplementos para integrar a alimentação.

Ingestão sob controle

A forma de utilização do BCAA varia de acordo com o objetivo dos esportistas. Para ganhar uma proteção maior e evitar o desgaste durante os exercícios, alguns preferem tomá-lo logo antes do treino. Quem opta por ingerir a substância depois do trabalho muscular deve fazê-lo até 30 minutos após o fim das atividades. Nesse caso, o BCAA serve para cessar e equilibrar a queima muscular, atuando diretamente na recuperação.

Ingerir unicamente os aminoácidos, porém, é um erro comum de quem toma suplementos sem acompanhamento de especialistas. O ideal é que haja o consumo de repositores energéticos, ainda que de baixo teor calórico. “Os carboidratos são os principais nutrientes para a recuperação. O BCAA serve como um coadjuvante. De nada vai adiantar tomar separadamente”, ressalta o nutricionista Fernando Carvalho.

Efeito contraditório

Os benefícios dos BCAAs dividem opiniões entre os especialistas. Para Rosana Radominski, presidente de obesidade da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), o consumo dos aminoácidos pode ter efeito placebo em alguns atletas. “Se o indivíduo se alimentar corretamente e fizer a reposição de carboidratos, a recuperação muscular é a mesma”, afirma. Rosana não é adepta dos suplementos, e apenas sugere uma complementação alimentar em caso de necessidade extrema. “Nessas situações, indico logo um complexo proteico geral, com a proteína inteira. Nela, tem o BCAA e outros componentes saudáveis para o músculo”, aponta.

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