Chega um momento na vida em que a facilidade não é mais entrar em forma, pelo contrário, é fácil ficar fora de forma
Quando se é jovem até mesmo adulto, mas um adulto ainda meio jovem, uma mudança nos hábitos alimentares, o aumento da atividade física e um pouco mais de disciplina proporcionam resultados significativos. E imediatos. O excesso, pelo menos aquele excesso que está excedendo os limites, não chega a ser um tormento porque podemos recuperar a forma a partir da nossa decisão de investir nisso.
Mas à medida que o tempo passa e ficamos menos jovens a coisa muda de figura. E não é para melhor. Os hábitos alimentares nessa fase não têm muito que alterar porque normalmente já estão mais ou menos enquadrados. As atividades físicas, ainda que contínuas, precisam obedecer o limite que a idade estabelece. As facilidades tentadoras das dietas milagrosas e ocasionais não iludem mais. E nessa etapa da vida nada de exageros é mais recomendável, nem na dieta nem no esporte.
E ao contrário das outros períodos, chega uma hora em que a facilidade não é mais entrar em forma, pelo contrário é em ficar fora de forma. Reduzir o peso passa a ter um peso ainda maior, porque além da vontade e decisão é preciso paciência e determinação.
Não sou de criticar a natureza até porque além de maravilhosa é generosa e fascinante. Mas não posso deixar de confessar que nesse aspecto, o de engordar, acredito que ela foi um pouco preconceituosa. Pune o prazer de saborear e desfrutar do paladar, premiando a abstinência ao invés do uso. Sem considerar que os prazeres da mesa estão sempre associados a ambientes alegres, ao convívio agradável, ao congraçamento.
Será que não podia ter sido diferente? Já pensou que se o que engordasse não fosse consumir alimentos deliciosos e apetitosos, algo em que o homem investe conhecimento e tecnologia e sim a pessoa ser ruim, ter atitudes más, ser invejosa, provocar atritos, gerar descontentamentos e todo tipo de atitude criminosa que coloca para fora o que o ser humano tem de pior não fosse mais correto? Aí sim, além do julgamento das leis, os bandidos seriam punidos pela natureza. A todo tipo de maldade corresponderia o aumento de peso.
Porque é triste punir o paladar e o prazer decretando sentenças de alto risco e preço para quem não resiste as provocações que a vida oferece. Ou que não tem uma formação que lhe permita consumir calorias sem incorporá-las no corpo como muitos privilegiados que, mesmo se alimentando muito bem, continuam com uma magreza irritante.
Nem de longe quero fazer uma apologia da gordura, nem criticar e contestar nutrólogos, nutricionistas, médicos e personal trainners, mas penso que é uma baita sacanagem a pessoa engordar só porque desenvolveu a aptidão de ter um gosto apurado.
Gente como eu, que entre tantas habilidades que podia ter desenvolvido fui logo aprimorar e qualificar o paladar. E o pior: um paladar sem preconceitos.
Correio de Uberlândia
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